Faz algum tempo que eu estava querendo saber como eram realizadas as cerimonias de casamento nos tempo bíblicos, depois de muita procura, a descrição do Rabino Barney Kasdan, foi a que mais gostei.
CASAMENTO
JUDAICO
Por Rabino
Barney Kasdan
“Assim diz o Senhor: Neste lugar, do
qual dizeis que está deserto, sem homens, nem animais, nas cidades de Judá, e
nas ruas de Jerusalém que estão assoladas, sem homens, sem moradores e sem
animais, ainda se ouvirá a voz de gozo, a voz de alegria, a voz do noivo e da
noiva, e a voz dos que trazem ofertas de ações de graça à casa do Senhor, e
dizem: Dai graças ao Senhor dos Exércitos, pois bom é o Senhor, o Seu amor dura
para sempre. Pois restaurarei a sorte da terra como no princípio, diz o Senhor”
(Jr. 33:10-11).
Entre todos
os costumes apontados por Deus, provavelmente não exista nenhum mais alegre do
que o casamento judaico. É uma simchá (ocasião alegre) que você não quer
perder! É claro, é alegre o bastante somente testemunhar os votos de aliança
entre o homem e a mulher que se amam. Quando você soma família e amigos,
comida, música e dança, é difícil encontrar uma celebração mais exuberante.
Mesmo sendo o casamento cristão uma benção, existem algumas lições exclusivas a
serem aprendidas da cerimônia de casamento bíblico-judaico, em particular. Os
rituais antigos associados a este costume são ricos em verdades espirituais que
lembram Israel da aliança deles com Deus e de Seu amor por eles. Este costume
apontado por Deus pode ser examinado através de três partes de que falam a
tradição judaica.
O período
Shidduchin é o primeiro passo no processo do casamento, e se refere aos
arranjos preliminares esposais legais. Nos tempos bíblicos, o primeiro passo
importante era o “noivado”. Era comum, na tradição antiga, o pai do noivo
escolher uma noiva para seu filho, às vezes enquanto ele ainda era criança. O
casamento era, às vezes, considerado como um ato de ligação de famílias, ou
mesmo uma aliança política; entretanto, o que deveria ser descrito como amor
era, por vezes, um fim secundário. Uma excelente ilustração do casamento
bíblico é encontrado nos primeiros capítulos da Torah, concernentes à vida do
patriarca Isaque.
“Abraão era agora idoso e bem avançado em idade, e o Senhor o tinha abençoado
em todas as áreas. Ele disse ao servente chefe de sua família, aquele que
estava à frente de tudo o que ele tinha: Ponha sua mão sobre minha coxa. Quero
que você jure pelo Senhor, o Deus dos céus e Deus da terra, que você não vai
tomar uma esposa para o meu filho das filhas dos cananeus, entre os quais estou
vivendo, mas você irá ao meu país e aos meus próprios parentes e tomará uma
esposa para o meu filho Isaque” (Gn. 24:1-4). Este é um exemplo clássico do
Shidduchin sendo iniciado para o filho de Abraão. Ainda que isto era
considerado de responsabilidade do pai, muitas vezes não era prático.
Entretanto, o pai poderia delegar esta responsabilidade, designando um
representante. Neste caso, Abraão envia seu servo numa jornada para obter uma
noiva para seu filho de sua própria clã semítica. Através das gerações, esta
pessoa era conhecida como shadkhan (“agente de casamento” ou “casamenteiro”).
Isto pode soar familiar para qualquer um que tenha assistido o filme
“Violonista no Telhado”.
Ao encontrar a formosa Rebeca, o servo enviado por Abraão viu claramente a mão
de Deus. Convencido da própria seleção, o servo executou o passo seguinte do
Shidduchin, o qual é chamado de Ketubah (“escrito”, ou “recibo”). A Ketubah
inclui as provisões e condições propostas para o casamento. Isto deve ser
chamado de acordo inicial pré-nupcial ou, mais corretamente, de contrato do
casamento. Neste documento hebraico, o noivo promete sustentar sua futura
esposa, enquanto que a noiva estipula o contexto de seu dote (condição
financeira). Isto é destacado no relato do servo de Abraão em relação a Rebeca.
Depois de ter conversado com Labão (o pai de Rebeca), o servo reagiu da
seguinte forma:
“Quando o servo de Abraão ouviu o que eles disseram, ele se curvou ao chão
perante seu senhor. Então, o servo trouxe jóias de ouro e prata e artigos para
roupas e os deu a Rebeca; ele também deu presentes caros a seus irmãos e sua
mãe” (Gn. 24:52-53). A despeito do fato de ser um casamento arranjado, parece
claro que o consentimento da noiva era uma cláusula de contingência importante.
Isto é evidenciado quando o servo pergunta a Abraão: “O que acontece se a
mulher não quiser voltar comigo voluntariamente para esta terra?” (Gn. 24:5).
Felizmente, no caso de Rebeca, ela concordou com as condições da Ketubah (Veja
Gn. 24:58). Para se preparar a cerimônia de casamento, era comum a noiva e o
noivo fazerem separadamente um ritual de imersão na água (mikveh). Este ritual
era sempre o símbolo de uma limpeza espiritual.
Eyrusin (Desposar)
Depois da mikveh, o casal aparece sob a huppah (“pálio nupcial”), numa
cerimônia pública, para expressar suas intenções de se tornarem esposos, ou
noivos. Enquanto eyrusin significa “desposar”, uma palavra secundária, às vezes
associada com o período, é kiddushin (“santificação”, ou “separado à parte”).
Este termo secundário descreve mais especificamente o que o esposar, ou o
período de noivado significa, que é separar uma pessoa para a aliança do casamento.
Kiddushin também se refere à verdadeira cerimônia eyrusin, a qual toma lugar
sob uma huppah.
Desde os tempos antigos, o casamento sob o pálio nupcial tem sido um símbolo de
uma nova família sendo planejada (Ver o Salmo 19:5; Joel 2:16). Durante a cerimônia,
alguns itens de valor são examinados (por exemplo, alianças) e um copo de vinho
é compartilhado para selar os votos de eyrusin. Por isso, não havia relações
sexuais a esta altura, e o casal deveria viver em lugares separados. O período
para desposar é tipificado na história de Isaque, no espaço de tempo entre a
aceitação de Rebeca e o real casamento deles em Canaã. O entendimento judaico
de eyrusin tem sempre sido mais forte do que nosso moderno entendimento de
noivado. O eyrusin era tão obrigatório que o casal deveria, na verdade,
precisar de um divórcio religioso (get) a fim de anular o contrato (Veja Dt.
24:1-4). A opção de um get estava à disposição somente do marido, pois a esposa
não tinha nada a dizer em nenhum procedimento de divórcio. Ambos, a noiva e o
noivo, têm suas respectivas responsabilidades neste período. O noivo deveria
usar este tempo como preparatório. Como a huppah simbolizava a nova família,
então, o noivo deveria ter como alvo a preparação do novo lugar de moradia para
sua noiva e, eventualmente, para os filhos à seguir. Nos tempos bíblicos, isto
era resolvido mais facilmente pela simples adição de um outro quarto na casa
existente da família. Enquanto o noivo preparava a casa, a noiva teria como
alvo sua preparação pessoal, enquanto o dia do casamento se aproximava. Um
vestuário lindo de casamento devia ser preparado como um símbolo de uma alegre
ocasião por vir. Mais importante, a noiva deveria se dedicar ao verdadeiro
espírito do tempo preparatório para o casamento. Para ambos, a noiva e o noivo,
este deveria ser um ano de introspecção e contemplação pessoal para esta tão
santa aliança - a do casamento.
Nissuin
(Casamento)
O passo
culminante no processo da cerimônia do casamento judaico é conhecido como
nissuin. Isto é baseado no verbo hebreu nasa, que literalmente significa
“carregar”. Nisuin era mais ou menos uma descrição gráfica, enquanto a noiva
estaria esperando o noivo para levá-la para sua nova casa. Existia uma grande
expectativa para a noiva na chegada do casamento. Esse tempo de espera se dava
levando-se em consideração um elemento único para o casamento judaico bíblico,
que é o tempo da chegada do noivo (e por isso toda a festa do casamento), o
qual era para ser uma surpresa. Qualquer noiva que levasse o período de noivado
seriamente, estaria esperando o noivo ao final desse longo ano de eyrusin.
Entretanto, a hora exata da cerimônia não era certa, pois era o pai do noivo
que daria a aprovação final para o nissuin começar. A noiva e sua comitiva
estariam, então, ansiosamente olhando e esperando pelo momento exato. Mesmo no
final da tarde, a comitiva de casamento deveria manter suas lâmpadas de óleo
acesas só no caso em que o casamento estivesse por começar. Como eles saberiam
quando seria a hora? Um costume era que um membro da comitiva do noivo
liderasse o caminho da casa do noivo para a casa da noiva e gritasse, “Veja,
vem o noivo!”. Isto seria seguido pelo som do shofar (chifre de carneiro), o
qual era usado para proclamar dias santos judaicos e eventos especiais.
Ao som do shofar, o noivo lideraria a procissão do casamento pelas ruas da vila
da casa da noiva. Os acompanhantes do noivo deveriam então carregar (nissuin) a
noiva de volta para a casa do noivo, onde a huppah foi montada uma vez mais. O
casal iria uma vez mais, como eles fizeram no ano anterior, proferir uma benção
acompanhados de um copo de vinho (um símbolo da alegria). Este copo era
claramente distinguido do copo anterior, como era refletida na tradicional
sheva b’rakhot (“sete bençãos”) que o acompanhava. O segundo estágio da
cerimônia da huppah, como é encontrado no costume do nissuin, serve como a
finalização dos votos e promessas anteriores. O que foi prometido na cerimônia
do eyrusin agora foi consumado na cerimônia do nissuin. Pela primeira vez, o
casal estava livre para consumar o casamento deles, tendo as relações sexuais e
vivendo juntos como marido e mulher (ver Gn. 24:66-67). O pináculo desta
cerimônia alegre é o jantar de casamento. Isto é mais do que simplesmente
sentar e jantar com todos os convidados, pois inclui sete dias de comida, dança
e celebração (veja Jz. 14:10-12). Depois de todas as maravilhosas festividades,
o novo esposo estava livre para trazer sua esposa para sua nova casa e viverem
suas vidas juntos, dentro da total aliança do casamento.
Observância
Tradicional Judaica
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